Mais de 46 mil ítalo-descendentes de diversos países já assinaram uma petição virtual que pede ao governo da Itália que revogue o decreto-lei anunciado no último 28 de março com mudanças drásticas para a obtenção da cidadania italiana.
O abaixo-assinado na plataforma change.org está perto de alcançar a meta de 50 mil assinaturas e é destinado à premiê de direita Giorgia Meloni e ao restante do governo, incluindo o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, autor da proposta.
"Nós, cidadãos italianos e descendentes de italianos residentes no exterior, manifestamos a nossa firme oposição ao Decreto-Lei Tajani sobre a cidadania, que ameaça limitar o direito ao reconhecimento da cidadania italiana para os descendentes de emigrantes", diz o texto, que fala em "traição da história da emigração italiana" no mundo.
No Brasil, ítalo-descendentes repudiaram o decreto, que impõe um limite geracional na transmissão da cidadania "jus sanguinis" ("direito de sangue"), permitindo o reconhecimento apenas para quem tem pelo menos um pai ou um avô nascido na Itália.
"Tenho trilhado o caminho de recuperação das raízes e da identidade da família, dado o meu grande interesse pela história e cultura da Itália, em especial da região do Vêneto, de onde provinham a maioria dos meus ancestrais", revelou o jovem Davi Colombini, de 16 anos. Descendente de quarta geração, ele contou à ANSA que oito de seus 16 trisavós são italianos de nascimento.
"Triste dia. Vêneto, Lombardia, Campânia e Calábria, teus ramos foram ceifados, teus frutos, arrancados e ateados ao fogo", acrescentou.
Com processo para a cidadania em andamento, Nathalia Marangoni, 34, bisneta de italianos do Vêneto, recebeu a notícia sobre a limitação da cidadania com preocupação. Após o "susto", ela disse à ANSA que sua advogada "confirmou que o processo já foi protocolado". "Então está tudo certo", afirmou a paulistana, aliviada.
Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Descendentes que não apresentaram os pedidos até 23h59 (horário de Roma) de 27 de março terão de respeitar as novas regras do decreto.
"Eles tiraram os nossos direitos do dia para noite, sem dar tempo das pessoas se programarem", declarou à ANSA a ítalo-brasileira Thais de Andrade, 40, que se diz "revoltada" com a medida, a qual é "injusta" por "não estarem respeitando a diáspora italiana".
"Nossos ascendentes não saíram da Itália por falta de amor à pátria, mas devido à guerra, pobreza", explicou Andrade, cuja bisavó italiana "trabalhou como empregada doméstica" no Brasil e faleceu em 2010 sem "falar português direito".
"Isso é xenofobia. Nossos hábitos são italianos", reforçou.
O deputado do Parlamento da Itália Fabio Porta, eleito pela comunidade italiana na América do Sul, afirmou que "não se pode intervir de forma emergencial e precipitada" em "questões tão delicadas". "Iremos ler os textos completos e aguardaremos as diligências parlamentares necessárias para intervir de forma séria e adequada", salientou.
Já para a ex-deputada ítalo-brasileira Renata Bueno, a mudança é "arbitrária" e "fere os direitos institucionais dos descendentes de italianos residentes no exterior, principalmente na América Latina".
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