Após quase dois meses de trégua, Israel bombardeou a Faixa de Gaza na madrugada desta terça-feira (18) e deixou mais de 400 mortos no enclave palestino, em uma escalada que ameaça enterrar de vez as tentativas de resolução do conflito no Oriente Médio.
Segundo o governo israelense, o ataque foi ordenado pelo premiê Benjamin Netanyahu e pelo ministro da Defesa Israel Katz devido às "repetidas recusas do Hamas em libertar os reféns" e após o grupo fundamentalista islâmico ter "rechaçado todas as propostas" feitas pelos Estados Unidos e pelos mediadores.
"As Forças de Defesa Israelenses [IDF] atacaram alvos do Hamas em toda a Faixa. A meta é alcançar os objetivos da guerra, incluindo a libertação de todos os reféns, vivos e mortos", diz uma nota do gabinete de Netanyahu. As IDF também indicaram que o grupo palestino preparava novos atentados e estava se "reorganizando".
Segundo a Casa Branca, Israel informou o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes dos bombardeios. Nas últimas semanas, o magnata sugeriu remover toda a população de Gaza para transformar o enclave em uma espécie de empreendimento imobiliário, projeto criticado no mundo todo.
"Como já dito por Trump claramente, o Hamas, os houthis, o Irã e todos aqueles que tentam aterrorizar Israel e os Estados Unidos pagarão um preço. O inferno cairá sobre eles", disse a porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, enclave controlado pelo Hamas, os ataques deixaram pelo menos 404 mortos e 562 feridos, números que se baseiam em registros de hospitais no território. O balanço inclui dirigentes do governo do enclave. "Diversas vítimas ainda estão sob os escombros", afirmou a pasta.
O grupo islâmico acusou Netanyahu e seu "governo extremista" de "afundarem o acordo de cessar-fogo", expondo os reféns israelenses em Gaza "a um destino incerto".
Já os houthis, aliados do Hamas e que controlam a maior parte do Iêmen, disseram que a ação de Israel provocará uma escalada dos confrontos no Oriente Médio. "O povo palestino não será deixado sozinho nessa batalha", prometeu o grupo.
A retomada da guerra também foi criticada por um fórum que reúne familiares dos cerca de 60 reféns ainda sob poder do Hamas em Gaza. "Parem de matá-los agora", diz um apelo dirigido ao governo de Israel.
O cessar-fogo em Gaza havia começado em 19 de janeiro e permitiu a restituição de 33 reféns israelenses (sendo oito deles mortos) e cinco tailandeses, bem como a soltura de mais de 1,7 mil prisioneiros palestinos.
Reações
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse ter ficado "chocado com os ataques israelenses" na Faixa de Gaza, que provocaram a morte de "um número significativo de civis".
A informação está em um comunicado divulgado pelo porta-voz adjunto do português, Farhan Haq. Segundo ele, Guterres "pede com força que o cessar-fogo seja respeitado, que a assistência humanitária sem obstáculos seja restabelecida e que os reféns remanescentes sejam libertados incondicionalmente".
Por sua vez, o alto comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, Volker Turk, declarou ter ficado "horrorizado" com os bombardeios. "A guerra e esse pesadelo devem acabar imediatamente. O recurso de Israel a uma força militar ainda maior acumulará mais misérias em uma população que já sofre condições catastróficas", salientou. Turk também cobrou a libertação "imediata e incondicional" de todos os reféns.
Já o poder Executivo da União Europeia criticou a decisão de Israel de encerrar o cessar-fogo na Faixa de Gaza e cobrou "moderação". "Deploramos a retomada dos bombardeios em Gaza, que causaram vítimas civis, incluindo crianças", afirmou um porta-voz da Comissão Europeia nesta terça-feira. "Pedimos ao Hamas que liberte os reféns e a Israel que mostre moderação", acrescentou.
Enquanto isso, o presidente do Conselho Europeu, principal órgão político da UE, António Costa, disse ter ficado "chocado e triste" com a retomada do conflito, que causou "muitas vítimas civis nos ataques aéreos israelenses da noite passada".
"A violência deve parar, e os termos do acordo de cessar-fogo devem ser respeitados. Todos os reféns e detidos devem ser libertados, e a ajuda humanitária deve ser retomada imediatamente", escreveu o português no X.
A premiê da Itália, Giorgia Meloni, expressou "grande preocupação" com o fim da trégua, durante discurso no Senado em vista da reunião do Conselho Europeu de 20 e 21 de março.
Segundo ela, a escalada "coloca em risco os objetivos pelos quais todos trabalhamos", como "a libertação de todos os reféns e um fim permanente das hostilidades, assim como a recuperação da assistência humanitária plena" no enclave palestino.
O governo dos Estados Unidos, no entanto, culpou o Hamas pela retomada dos combates. "O Hamas poderia ter libertado os reféns para estender o cessar-fogo, mas preferiu escolher a guerra", destacou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Brian Hughes.
Netanyahu fala sobre ataques
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que o Hamas "sentiu a força" do Exército do país após os novos ataques realizados na Faixa de Gaza.
"Nas últimas 24 horas, o Hamas sentiu nossa força. Quero assegurar a vocês e a eles: isso é apenas o começo. Continuaremos a lutar para atingir todos os objetivos da guerra", declarou.
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