Em um cenário de desafios globais crescentes, o presidente da Stellantis, John Elkann, garantiu nesta terça-feira (11) que o grupo está "se preparando" para lidar com a disputa tarifária deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e apontou o Brasil como um celeiro de oportunidades, sobretudo quando o assunto é descarbonização.
Em visita ao gigante sul-americano, o executivo concedeu uma entrevista a um restrito grupo de veículos de imprensa, incluindo a ANSA, à margem da inauguração de um centro de tecnologias de última geração para mobilidade híbrida-flex na fábrica de Betim (MG), a histórica primeira unidade brasileira da Fiat e que completará 50 anos em 2026.
Durante a conversa, Elkann mostrou calma em meio a um cenário de caos nos mercados por conta dos tarifaços de Trump e assegurou ter um "bom diálogo" com a Casa Branca.
"A gente vai ver o que acontece, e estamos trabalhando para nos preparar. As coisas mudam, então é importante estar preparado para o que mudar, mas eu acho que é prematuro falar disso", afirmou o executivo em bom português, fruto do período em que viveu no Rio de Janeiro, entre os sete e os 12 anos de idade.
"O diálogo [com o governo Trump] é bom e construtivo, e eles também percebem o quanto a indústria dos carros é importante. Tem conversa, tem respeito e compreensão", salientou o presidente, que acumula o cargo de CEO interino da Stellantis desde a saída de Carlos Tavares, em dezembro passado.
O processo seletivo para encontrar o substituto do português segue em curso e será concluído no primeiro semestre, mas Elkann, sentado entre Antonio Filosa (presidente nas Américas) e Emanuele Cappellano (presidente na América do Sul), não quis abrir nomes nem mesmo quando questionado se algum candidato estaria naquela sala, mas descartou a hipótese de permanecer como CEO.
"Não, não, não. Eu posso fazer isso por um período de vida, mas não por um tempo longo. É importante que a empresa tenha um CEO bom e que possa fazer isso 100%. O que posso dizer é que temos bons candidatos", disse.
O novo centro de tecnologias para mobilidade híbrida-flex se insere no ambicioso plano de investimentos de R$ 32 bilhões na América do Sul entre 2025 e 2030, sendo R$ 30 bilhões no Brasil, um "país onde tem muita, muita oportunidade". "O Brasil tem capacidade de inovação e de olhar as tecnologias que são melhores para o meio ambiente", acrescentou.
Elkann enxerga um futuro com carros cada vez mais híbridos e autônomos, que talvez sejam os "primeiros robôs reais com quem a gente vai se relacionar", além de perspectivas "interessantes" para a inteligência artificial.
"Toda a inovação é positiva se você usa as coisas bem. Não tem que ter medo do que a gente não sabe. Tem que ter responsabilidade de fazer as coisas que farão o mundo progredir", acrescentou.
A tecnologia, aliás, já é parte importante da vida profissional de Elkann, que agora integra o conselho de administração da multinacional Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp. "É uma grande oportunidade de aprender o que essas sociedades de tecnologia mais avançadas estão fazendo, como na inteligência artificial", afirmou.
No Brasil, país que ele visita anualmente e onde possui muitas amizades, o executivo também anunciou o maior investimento da Stellantis em filantropia na região nos últimos 10 anos, para capacitar cerca de mil professores e atender mais de 200 escolas, beneficiando 165 mil estudantes, com foco na abordagem Stem (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
"A gente acredita muito que é realmente a educação que faz a diferença", declarou.
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © Copyright ANSA