Os membros do partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), uma das principais forças de oposição na Itália, confirmaram as mudanças no estatuto propostas pelo presidente da legenda, o ex-premiê Giuseppe Conte, que marcam o rompimento definitivo com seu fundador, o comediante Beppe Grillo.
Em 24 de novembro, os inscritos do M5S haviam aprovado com 62% dos votos a abolição do cargo de "garantidor" do movimento, que era exercido por Grillo para "proteger os valores fundamentais" do partido, mas o humorista pediu uma nova votação, realizada no último domingo (8).
Porém o resultado foi ainda mais expressivo: 80,56% dos eleitores votaram pela eliminação do posto de "garantidor", função que tinha o tinha o poder de interpretar livremente o estatuto do partido e até de convocar uma votação para pedir a destituição do presidente da sigla, cargo ocupado por Conte desde 2021.
Esse posto será substituído por um colegiado eleito pelos membros do M5S, o que, na prática, acaba com os poderes de Grillo e garante autonomia para Conte gerir o partido e promover a desejada aproximação com a centro-esquerda.
"O M5S votou em massa mais uma vez, com uma participação até mais alta do que duas semanas atrás. Agora é o momento de virar a página", disse o ex-premiê, que falou em uma "refundação do movimento".
Em novembro, a assembleia de filiados já havia aprovado que o partido se definisse como "progressista independente" e o fim da regra que proibia seus integrantes de exercerem quaisquer cargos públicos por mais de dois mandatos consecutivos.
No entanto o ex-ministro da Infraestrutura Danilo Toninelli, aliado de Grillo, garantiu nesta segunda-feira (9) que o humorista vai entrar na Justiça para vetar o uso do símbolo do M5S e forçar Conte a criar o próprio partido.
Fundado por Grillo em 2009, o movimento rompeu a polarização entre direita e esquerda na Itália e foi o partido mais votado nas eleições de 2018, com pouco mais de 30% da preferência. O resultado levou Conte, que não era uma figura de destaque no M5S, ao cargo de premiê em junho daquele ano, primeiro em aliança com a legenda da direita nacionalista Liga e depois, a partir do segundo semestre de 2019, em coalizão com a centro-esquerda.
Conte governou até fevereiro de 2021, quando foi substituído por um gabinete de união nacional encabeçado pelo independente Mario Draghi, mas assumiu a liderança do M5S e foi eleito deputado nas eleições de outubro de 2022.
Ao longo dos anos, no entanto, o movimento perdeu apoio tanto de eleitores eurocéticos que haviam sido atraídos por seu discurso antissistema quanto daqueles que viam no partido um caminho para renovar a esquerda.
As mudanças no M5S ganharam força diante dos resultados de eleições regionais neste ano, que mostraram que, juntos, o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o movimento antissistema têm mais chances de fazer frente ao domínio da coalizão da premiê de direita Giorgia Meloni.
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